Por Christian Barbosa

Uma pesquisa realizada recentemente pelo Instituto Endeavor destacou que 76% dos brasileiros querem ser donos de um negócio próprio. A taxa é a segunda maior do mundo, ficando atrás apenas da Turquia, com 82%.

Quando falamos em ser dono de um negócio próprio, muitas pessoas ainda costumam dizer que sonham em se tornar empreendedoras para ter uma vida tranquila, com tempo para família, lazer, esporte e passeios. Mas essa é uma visão que está longe da realidade da maior parte dos empreendedores, o mito do tempo livre é apenas mais uma lenda do mundo corporativo.

No começo de muitos negócios, muitas pessoas passam por um processo silencioso e invisível que costumo chamar de “síndrome da fusão”: quando a vida pessoal se une à vida empresarial. Empresa e vida pessoal se transformam em uma única coisa e, nesse momento, começam a aparecer muitos problemas.

Existem muitos sintomas da síndrome da fusão. No entanto, o caso se torna grave quando o empreendedor acha que essas ações estão certas! Esse é o momento em que ele descobre ter se transformado no pior tipo de patrão: o patrão de si mesmo. Uma pessoa exigente, que cobra por resultados, sem ter superiores para pedir folga e que precisa trabalhar o máximo possível para a empresa crescer, mantendo todas as pessoas que agora dependem dele. O stress toma conta, a ansiedade aumenta, os papéis se misturam, os problemas crescem e a empresa começa a quebrar.

Muitas vezes, o próprio empreendedor não consegue enxergar esse cenário e só toma consciência da situação quando já é tarde demais. Por isso, sempre ressalto que é fundamental que os papéis estejam separados e que apareçam dois perfis essenciais para o negócio: o técnico e o empreendedor.

O papel de técnico é o executor, que tem o conhecimento técnico acumulado para criar e desenvolver os produtos e serviços da empresa; seu pensamento é o agora e a visão é focada no seu ambiente de operação. O papel de empreendedor é aquele  que busca oportunidades, planeja o negócio a longo prazo, investe no desenvolvimento de estratégias, tem visão e sonhos para a empresa.

O problema, para a maioria dos empreendedores, é que o papel de técnico acaba tomando controle da vida e da empresa. Esse é um grande perigo. O técnico, como todo executor, gosta de acumular o máximo possível de responsabilidades, pois tem como conceito que, em razão de seu conhecimento e experiência, é a pessoa ideal para fazer o trabalho bem-feito. Essa atitude acaba tomando um tempo precioso do empreendedor, que se vê absorvido pelo dia a dia operacional do negócio e não consegue ter tempo para que o papel de empreendedor apareça.

A parte mais difícil de toda essa história é fazer o empreendedor entender esse conceito. Eu, por exemplo, tenho uma empresa de tecnologia e, por amor e formação, fui técnico por mais de uma década. Quando me dei conta de que precisava parar de trabalhar no negócio para começar a empreender de verdade, as coisas começaram a mudar, a empresa cresceu e passei a ter mais tempo livre.

Quando olhamos a empresa pela ótica do empreendedor, ela é vista como uma forma de negócio que deve crescer para atingir os objetivos pessoais e não comprometê-los. A empresa não é sua vida, e sua vida não é a empresa. Nesse conceito, o empreendedor foca para a empresa crescer cada vez mais, dependendo cada vez menos dele.

Um excelente começo para deixar o papel de empreendedor aflorar é dedicar algumas horas por semana para isso. Talvez para o lado técnico, ele diga que é “impossível se afastar 1 hora da empresa”, mas quanto mais o empreendedor aparecer, menos o técnico ficará dando desculpas, pois ele será domado com planejamento, estratégia e delegação. Minha sugestão é que você tire meio período por semana para se dedicar ao planejamento do seu negócio. Se possível, afaste-se do escritório para evitar ser interrompido. Você quer ter uma empresa lucrativa e que funcione bem, mas para isso é preciso dar tempo ao seu lado empreendedor!

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