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Balanço do primeiro semestre do e-commerce brasileiro e o que vem por aí

Nos primeiros meses do ano as lojas virtuais levantaram 21 bilhões de reais e a previsão para os próximos meses é otimista

Realmente não tem quem segure o e-commerce nacional. Por mais um ano seguido, as vendas das lojas virtuais do país superaram as expectativas e o cenário econômico desafiador e geraram resultados impressionantes nos últimos meses.

A Ebit, uma das mais importantes instituições quando o assunto é e-commerce, divulgou recentemente seu tradicional relatório Webshoppers, que reúne dados do mercado e tendências para o futuro.

Segundo o órgão, nos primeiros seis meses de 2017, as lojas virtuais geraram um faturamento total de 21 bilhões de reais. O número representa um crescimento de 7,5% quando comparado ao mesmo período do ano anterior.

O número de pedidos atingiu a marca histórica de 50 milhões no primeiro semestre do ano, e o tíquete médio (valor por pedido) teve uma alta de 3,5%, atingindo 418 reais por compra.

O relatório também menciona que 24,6% destas transações foram feitas com dispositivos móveis, como smartphones e tablets. Número que reforça a tendência de que o ato de comprar utilizando aparelhos mobile veio para ficar.

Patricia Cotti, diretora de conteúdo da Academia de Varejo e diretora vogal do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo (Ibevar), justifica a utilização do mobile como uma forma de facilitar a vida do consumidor.

“O mundo mobile abre uma gama imensa de possibilidades e maiores informações de análise, seja com aplicativos próprios, site integrado ou acesso à localização do consumidor, afirma e completa: “Agora o varejo está sempre à mão”.

O professor Leandro Krug Batista, professor do MBA em Varejo da Universidade Positivo, reforça: “De acordo com as tendências que observei no congresso do qual participei em Nova York, o consumo, em geral, passará pelo smartphone do consumidor, mesmo as lojas físicas devem se preparar para esse movimento”.

Ele também afirma que a tendência é que, mesmo antes de visitar uma loja física, o consumidor use o celular para acessar sites de busca e redes sociais para buscar mais informações.

E quem não estiver com site otimizado para receber os acessos mobile? José Roberto Securato Júnior, conselheiro da Saint Paul Escola de Negócios e vice-presidente do Ibevar, responde: “Com poucas exceções de varejo de nicho, que oferece uma experiência diferenciada, o empreendedor que não estiver preparado para interagir no mundo mobile não sobreviverá”. 

Contudo, Krug alerta que só estar nessas plataformas não é o suficiente: “Aloja virtual deve se preparar, principalmente, para responder rapidamente nestes canais, pois o tempo de resposta criará mais ou menos confiança”.

O índice de e-consumidores, pessoas que fizeram pelo menos uma compra online no período, também foi positivo. A E-bit apurou que 25,5 milhões de pessoas fizeram pedidos nas lojas virtuais no primeiro semestre, um crescimento de mais de 10% sobre o mesmo período de 2016, quando o número era de 23,1 milhões de clientes.

As categorias vencedoras em volume de pedidos são moda e acessórios (14,8%), saúde cosméticos e perfumaria (12,2%) e casa e decoração (10,6%). No quesito faturamento, os segmentos que se destacam são telefonia e celulares (22,3%), eletrodomésticos (18,8%) e eletrônicos (9,6%).

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Razões para o crescimento do e-commerce

Existem alguns fatores que podem ter contribuído para o crescimento do e-commerce neste primeiro semestre. De forma geral, o cenário econômico brasileiro tem demonstrado sinais de recuperação em várias áreas, o que pode ter deixado o consumidor um pouco mais confiante em gastar.

O PIB voltou a crescer 1% no primeiro trimestre do ano, depois de oito quedas seguidas, de acordo com o IBGE, e a inflação também desacelerou, segundo o IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor Amplo).

O índice Fipe Buscapé, que monitora os preços praticados no e-commerce, também registrou queda nos preços em todos os meses.

Em março, mês do Dia do Consumidor, foi registrada uma deflação de 2,3%. Em nota, Sandoval Martins, CEO do Buscapé, comentou: “As categorias mais desejadas no Dia do Consumidor, celebrado em dia 15 de março, foram as que apresentaram mais retração, por conta dos descontos oferecidos pelos varejistas”.

Durante o período, a Fipe registrou queda de 12% no preço dos celulares e smartphones, 5,4% em itens de fotografia, 3% em produtos de informática e 2% de queda no valor dos eletrônicos.

O professor Krug também comentou os resultados: “O e-commerce tem se tornado uma opção para quem quer consumir e busca um menor preço. Principalmente para bens de compra comparada, como celulares e eletrodomésticos, em que o desembolso é alto, as ofertas no e-commerce são bastante atraentes”.

Esses dados demonstram que as lojas estão cada vez mais abertas para aproveitar as datas comemorativas para fazer bons negócios com os clientes. Algo bem diferente da tática “metade do dobro”, que era bastante comum até alguns anos atrás.

Neste começo de ano, muitos brasileiros também puderam sacar seu FGTS inativo, e, com esse valor inesperado, foi possível comprar produtos mais caros que só iriam adquirir na Black Friday ou no Natal.

Patricia Cotti completa: “Questões como estruturação dos marketplaces, novos formatos de e-commerce e lojas virtuais, maior desenvolvimento das ferramentas de marketing e analytics envolvido na análise dos dados também podem ser apontadas como fatores influenciadores desse crescimento”.

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Quem são os consumidores de e-commerce e como eles ditam tendências

O relatório da Ebit também analisa o perfil de público que consome artigos das lojas virtuais brasileiras. A pesquisa demonstra que 50,04% dos consumidores são do sexo feminino, enquanto 49,96% são homens.

No quesito idade, os resultados podem surpreender muita gente. Os consumidores que mais compram na internet têm idade entre 35 e 49 anos (38%) e acima de 50 anos (31%). Dos clientes de lojas virtuais, 23% têm entre 25 e 34 anos e 8% deles têm até 24 anos.

A informação quebra o paradigma de que apenas o público mais jovem é adepto das compras na web, e abre a possibilidade de empresas que trabalham com clientes na faixa etária de 35 a 50 anos investirem mais no comércio eletrônico. Afinal, não há mais dúvidas de que esse público também está online!

“Pessoas de 35-50 anos tendem a ter um poder de compra mais significativo, o que deve se refletir em outros canais além da internet, e o fato de que uma mudança cultural (comprar na internet) pode demorar mais tempo, mas impacta todas as camadas da sociedade”, justifica o vice-presidente do Ibevar.

No entanto, o professor Leandro Krug levanta uma reflexão interessante sobre o assunto: “Apesar de os jovens terem facilidade com a internet, não são eles os donos do limite no cartão de crédito. Em razão disso, às vezes, o comprador é diferente do pagador”, considera.

Outro dado interessante é que as classes com menor poder aquisitivo têm sido as principais forças do comércio eletrônico no país. Entre os e-consumidores, 33,4% têm renda familiar menor que 3 mil reais; 23,7% ganham até 5 mil reais; 18,3% têm renda de até 8 mil reais e 24,5% recebem mais de 8 mil reais mensais.

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Isso demonstra que as empresas podem investir em produtos voltados para quem tem um poder aquisitivo menor e, mesmo assim, prosperar em número de vendas e faturamento. O poder aquisitivo mais baixo não exclui esses consumidores de comprar na internet, muito pelo contrário.

Como as lojas virtuais costumam ter despesas menores, o valor dos tíquetes médios também tende a ser mais baixo que o das lojas físicas, algo que atrai bastante quem quer economizar nas compras.

A localização do público continua, basicamente, a mesma do primeiro semestre de 2016. A maioria deles está no Sudeste (62,8%), em seguida estão as regiões Sul (14,7%), Nordeste (12,6%), Centro-Oeste (7,3%) e Norte (2,5%).

Uma informação que surpreendeu o mercado e revela uma tendência que deve continuar forte no decorrer dos próximos anos está relacionada à forma de pagamento que os compradores escolhem na internet.

Segundo a Ebit, 48,2% dos clientes escolhe pagar suas compras à vista. No primeiro trimestre de 2016 eram 42%. A escolha pode ser motivada pelos descontos que muitos lojistas oferecem no pagamento à vista.

O que os números dizem sobre o segundo semestre 2017

Os dados colhidos do desempenho do comércio eletrônico nos primeiros seis meses do ano já denunciam algumas tendências que devem se manter neste semestre, como a preferência pelas compras em dispositivos mobile, um perfil de compradores com idade acima dos 35 anos e a preferência pelo pagamento à vista sempre que houver uma condição favorável diante do parcelamento.

No entanto, o segundo semestre tem algumas características específicas que podem impulsionar novas tendências para o mercado de e-commerce.

Para começar, duas das principais datas comemorativas do varejo ocorrem nos últimos meses do ano: o Natal e a Black Friday. Ano após ano, esses dois eventos colocam os índices de desempenho das lojas virtuais cada vez mais alto, e costumam ser as datas que mais vendem no Brasil.

Em 2016, a Black Friday gerou um faturamento de 1,9 bilhão reais, e o Natal teve receita superior a 7,7 bilhões de reais. Juntas, as duas datas representaram mais de 20% dos 44,4 bilhões faturados pelo comércio eletrônico no ano passado. Ou seja, essas ocasiões são muito importantes para o e-commerce!

Patricia Cotti afirma, porém, que para ter bons resultados é preciso planejar. “É necessário se preparar para a demanda da Black Friday, trabalhando o consumidor desde cedo na expectativa da data e desejo pelos produtos, lembrando, também, da diferenciação necessária para que não ocorra somente uma antecipação de venda para o período natalino (e esta seja uma data morta). Planejamento é fundamental.”

Há, ainda, outras datas importantes, como o Dia das Crianças, Dia dos Pais, Cyber Monday e o Boxing Day, que também contribuem para o aumento das vendas online.

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Juntando esses dias especiais com o período de festas (e consequentemente de presentes) e com a chegada do décimo terceiro salário, o segundo semestre realmente tem tudo para superar o primeiro. E a Ebit concorda.

A estimativa da instituição é que o setor cresça entre 12% e 15% nestes últimos seis meses do ano. Os números para outros índices também são otimistas. É esperada uma alta de 6,5% no volume de pedidos, o que resultaria em 113,2 milhões de compras, e de 3,3% no tíquete médio, uma média de 431 reais por pedido.

Com tudo isso, a previsão é que o faturamento total de 2017 aumente cerca de 10%, em relação a 2016, e culmine em uma receita de 48,8 bilhões de reais até o fim deste ano.