Você já ouviu falar em copycat? O que é isso? Um desenho animado? Um novo super-herói? Um prato exótico?
Nada disso! Copycat é uma expressão em inglês que, no mundo do empreendedorismo, quer dizer copiar um modelo de negócio já testado e aprovado em outro país, trazendo-o para um país que ainda não o conhece.
“Aquela máxima de que ‘nada se cria, tudo se copia’ também se aplica ao mundo dos negócios. Nesse sentido, os empreendedores buscam o que está dando certo e tentam adaptar para a nossa cultura”, analisa Alessandra Andrade, coordenadora do Centro de Empreendedorismo da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap).
Foi com essa estratégia que conhecemos, por exemplo, em 2010, os sites de compras coletivas. Quando chegou ao Brasil e virou uma febre, o modelo já fazia sucesso lá fora.
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Por aqui, a aceitação foi tão boa que outros brasileiros decidiram fazer copycat do copycat, e logo o Peixe Urbano, o precursor do modelo no Brasil, ganhou vários concorrentes. Inclusive, uma das empresas que atuavam nos EUA, de onde os empreendedores “copiaram” a ideia, decidiu também entrar no mercado brasileiro. E assim o Groupon, fundado em 2008 nos EUA, desembarcou em 2010 no Brasil, tornando-se o grande concorrente do Peixe Urbano.
Aliás, esse é um dos riscos que o copycat traz. O “dono da ideia” pode decidir explorar seu mercado depois que você já tiver “preparado o terreno” e aberto as portas para o modelo de negócio. E aí você terá um concorrente de peso para encarar.
Esse é um dos motivos pelos quais é preciso planejar muito bem antes de apostar em uma ideia não original. De fato, hoje em dia, abrir um negócio é muito mais simples que há alguns anos. Ferramentas tecnológicas ao alcance de todos, empréstimos bancários facilitados para empreendedores e informações a rodo na internet facilitam esse processo.
“Como a informação está muito dissipada hoje em dia, você nem precisa estar presente. Às vezes, você conhece um novo modelo de negócio, que está sendo aplicado lá fora, navegando pelo Facebook. Depois, é só aprofundar sua pesquisa”, explica Alessandra.
No entanto, é preciso, como sempre, cautela, estudo e muito planejamento. Ciente disso, se você está disposto a buscar ideias em outros países, para inspirá-lo, apresentamos, abaixo, quatro empreendedores que apostaram nessa estratégia e estão fazendo sucesso:
Jack the Barber
A loja virtual Jack the Barber é baseada no conceito norte-americano de lifestyle masculino.
Tudo começou quando Guilherme Paulino passou por uma experiência ruim ao comprar uma calça em um shopping center no Brasil. Ao experimentar a peça, ele descobriu que precisava fazer a barra e, assim, ficaria mais um tempinho sem a peça. Resumo da história: ele só conseguiu levar a calça para casa depois de duas semanas.
Por outro lado, quando passou um período fora do país, sua experiência foi totalmente oposta. “Nas minhas compras nos Estados Unidos vi que todas as marcas vendiam calças com tamanho de cintura e perna pronto para você sair usando. Nesse modelo, investe-se um pouco mais em estoque, mas economizam-se tempo e dinheiro com barras. Melhor que isso, economiza o tempo do cliente, que é algo cada vez mais escasso e precioso”, aponta Paulino.
A ideia de transformar esse modelo americano em negócio online brasileiro também veio de outra inspiração gringa. “Para otimizar o giro do estoque, entendi que fazer um negócio online seria ainda mais interessante. Aí, na mesma época, descobri a Bonobos,que vende roupas online só para homens”, comenta o sócio-fundador da Jack the Barber.
Adotando o conceito norte-americano de numeração, a loja foi fundada em 2014. Mesmo com pouco tempo de vida, a expectativa dos sócios já é alta. O empreendedor projeta 2 milhões de reais de faturamento para 2015.
Kickante
Depois de ter uma experiência profissional no exterior, Tahiana D’Egmont, CEO da Kickante, ficou conhecendo o modelo de crowdfunding (financiamento coletivo). Então, ela resolveu apostar na iniciativa aqui no Brasil. “Acreditamos em sonhos e no potencial criativo e empreendedor do brasileiro de realizar projetos”, afirma Tahiana.
Basicamente, a Kickante é uma plataforma digital que arrecada fundos para qualquer tipo de projeto, desde o lançamento de livros e álbuns musicais até criações de jogos e campanhas sociais de ONGs.
E parece que a aposta tem dado certo. Fundada em outubro de 2013, a plataforma já lançou mais de mil campanhas e captou mais de 4 milhões de reais. A Kickante, inclusive, é responsável pela maior arrecadação via crowdfunding do Brasil: 889 mil reais para o lançamento do segundo volume do livro A Menina do Vale, de Bel Pesce, empreendedora e fundadora da FazINOVA.
Outras empresas brasileiras começaram a oferecer o mesmo serviço, mas Tahiana vê com bons olhos esse crescimento do crowdfunding no Brasil. “A concorrência é algo saudável e que ajuda o segmento a crescer. Isso significa, também, que mais pessoas podem ter acesso a ele e se beneficiar das vantagens do financiamento coletivo”, finaliza a CEO da Kickante.
Logovia
Engana-se quem pensa que é preciso sair do país para conhecer modelos estrangeiros de negócios. Para o CGO da Logovia, Carmelo Queiroz, a internet é capaz de substituir uma viagem presencial.
“O acesso à informação por um custo baixo, via internet, ajuda bastante, principalmente se avaliarmos que um empreendedor sempre reduz os custos no início do negócio. Contudo, caso haja capital sobrando, acredito que vivenciar novos mercado sempre vai agregar”, opina Queiroz.
Foi assim, aliás, que ele fundou a Logovia em 2011. A startup é uma plataforma que conecta milhares de designers com pequenas empresas interessadas na criação de nomes e logos. Funciona mais ou menos assim: uma empresa posta no site o projeto que está desenvolvendo e até quanto ela pode pagar. A partir daí, os designers cadastrados passam a concorrer pelo “prêmio”. Quem apresentar o melhor projeto, é contratado pela empresa.
Este conceito foi importado da Austrália. Mas, antes de Queiroz implementá-lo aqui no Brasil, ele fez uma série de pesquisas e testes para saber se o modelo faria sentido no país. Isso incluiu, também, uma pesquisa profunda no mercado de fora, em países da América e Europa, para entender a elasticidade do negócio.
“Como inovar é muito caro no Brasil por conta da burocracia, fazer esse benchmarking com os cases de fora diminui os custos e os riscos de implementação”, conclui Queiroz.
No fim do mês de maio, a Logovia fundiu-se com a We Do Logos e, juntas, tornaram-se a maior empresa no setor da América Latina, com 100 mil designers cadastrados. A expectativa para este ano é fechar com uma base de 300 mil usuários nas duas plataformas e um faturamento de 8 milhões de reais.
Grão Gourmet
Foi por meio de pesquisas que Renata Kurusu Gancev descobriu que o modelo de assinaturas de bebidas, como vinhos e cervejas, fazia muito sucesso no mercado. Dessa forma, ela fundou, em outubro de 2013, o Grão Gourmet, um clube de assinaturas de cafés especiais que são 100% arábica, com grãos criteriosamente selecionados.
“A ideia de negócio surgiu baseada no consumo crescente de cafés especiais no Brasil. Além disso, a nossa produção de cafés de excelente qualidade nos possibilitou fazer o modelo de assinatura. Pesquisamos e encontramos modelos parecidos existentes nos Estados Unidos, como MistoBox e Craft Coffee”, afirma Renata.
A empresa faz uma curadoria especial de produtos, oferecendo cafés selecionados com pontuação acima de 80 na escala da Associação Americana de Cafés Especiais (SCAA, na sigla em inglês). Para cada lote comprado é feita uma avaliação pelo QGrader, pessoa certificada para dar a pontuação.
O clube de assinaturas possui três opções para o consumidor, que pode escolher pacotes mensais de 250 gramas, 500 gramas ou 1 quilo; e o tipo: grãos ou moído. E os valores da assinatura variam de acordo com o tamanho escolhido, podendo ser de 23,50 a 53 reais, mais o frete. Ao todo, a empresa conta com 200 assinantes em todo o Brasil.
Quer empreender, mas está sem ideia: “dar uma espiadinha” no que os vizinhos andam fazendo pode ajudá-lo a se decidir!